domingo, 2 de maio de 2010

Bendita traição

Era a apologia da traição. Estava um frio difícil de suportar. As mãos foram parar ao rabito. Ao servirem de almofada, conseguiam manter-se quentes. De resto, a luz na esplanada estava óptima. Brilhante. Bem, voltando à traição, Júlia estava mesmo convencida de que a chave para os seus problemas foi aquela facadinha no namoro de três anos. "Fez-me ver o quão desequilibrada e cómoda era aquela relação. Uma traição é uma prova de fogo. Ou ficas ou vais embora". Ouvia caladinha, enquanto tentava que o frio não me desconcentrasse. Prosseguiu: "Foi óptimo. Em primeiro lugar estão os sentimentos, com tudo o que de misterioso e estranho que às vezes trazem agarrado. Assim fiz. Valeu a pena". E culpa, a sensação de culpa?. Respondeu ela: "Senti-me livre, por causa daquela coragem". Fez-se um silêncio. "Sim, e correu tudo bem". E então? "Fiquei com o Zé". Atirei: "Não tiveste coragem de deixar tudo para trás e tentar com o Pedro?". "Não gostei o suficiente dele para isso; há ali qualquer coisa que não bate certo. Não te sei dizer o que é. Mas quando cheguei a casa, agarrei-me ao Zé, anichei-me nele, e contei-lhe". Contaste? "Contei sem proferir uma palavra, disse-o mentalmente". Fechei o capítulo apenas com a frase audível:"Vou ficar contigo pelo menos até ao Natal". Ele riu-se e eu pulei na cama.

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