domingo, 16 de dezembro de 2007

À sua maneira

Passava de autocarro quando reparou num peão que tinha um rosto familiar. Era o João: mais largo, é certo, com um charuto na boca que segurava sem mãos – sempre gostou de ser excêntrico e praticava-o. Foi o suficiente para a fazer lembrar do que tinha acontecido. Ele esteve com Josefa sem reparar bem nela. Ela cedo viu isso. É tão importante que gostem de nós de uma forma que nos agrade. Esse é o segredo para a longevidade das relações, pensou em sistema de piloto automático, sem usar as regras lógicas do amigo Aristóteles, que tanta dor de cabeça lhe deu na faculdade. É por isso que há quem se vicie e depois não consiga deixar para trás relações com quem os admira. O rabo saltou do banco. A travagem do autocarro interrompeu o devaneio. No caso do João, ele achava Josefa inteligente, boa companhia, estimulante intelectualmente e sexy. Mas tudo isso à sua maneira. Josefa preferiu o Nuno, que via nela uma menina inquieta que acalmava com poesia.

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