sábado, 19 de maio de 2007

Bomba no peito

A primeira vez que Miguel lhe deu troco, o coração começou a bater mais do que era costume. Rita queria falar mais tempo com ele, estar mais próxima, tocar-lhe, mas tinha receio que ele percebesse que estava ali uma bomba no peito a querer saltar para fora. Punha a mão no decote para que não se visse as palpitações. Não lhe passou pela cabeça ir logo ao hospital. Na sua mente, só desfilava uma ideia: estar a menos de cinco metros dele. Se ficasse a seis, sentia frio. Aos dez, era como se caísse uma neve repentina, daquelas que nunca viu ao vivo. A primeira vez que Miguel lhe deu troco, Rita teve de ir às urgências. Os médicos fizeram-lhe exames e descobriram que ele tinha um problema no ritmo cardíaco. Nos primeiros dois meses de namoro, antes de cada encontro, a ansiedade obrigava-a a um comprimido específico para evitar batidas excessivas. Um dia, quis arriscar, não tomou nada e quando chegou ao pé dele teve de lhe dizer que precisava de ir à farmácia rapidamente. Três meses passados, de saídas, jantares, concertos, cinemas e muitos comprimidos, Rita melhorou. A coração habituou-se. Só quando o atraso descaía para os 20 minutos, as batidas aceleravam. Ele passou a viver com medo de não chegar a horas. Enquanto gostou dela, viveu com essa preocupação. Quando deixou de gostar dela, foi um certo alívio.

1 comentário:

Anónimo disse...

AMIGA, NÃO ME CONSIGO CANSAR!

MARAVILHOSO!