quarta-feira, 11 de abril de 2007

Banho quente

Depois de muita conversa deitada fora, esgotaram-se as palavras. Não conseguiam dizer mais nada. Ele calou-se e olhou para ela à procura de qualquer coisa. Do lado dela, o olhar descaiu em direcção à calçada portuguesa. “Tantos quadradinhos entre pés!”, pensou. Mas não havia mais nada a dizer. A aflição daquele silêncio bloqueou-lhe a acção. Só andava. Ele mantinha-se calado, a seu lado, ligeiramente à sua frente. Do outro lado, estava o Tejo. Quando ela se apercebeu disso – que ele ia um bocadinho de nada à sua frente – acelerou o passo. Ele seguiu-a. Deram por si a correr. Um atrás do outro. Energicamente. De repente, pareciam animais selvagens. Quando ele se deu por rendido, parou, inclinando-se para a frente, levando a cabeça ao encontro dos joelhos. Ela imitou-o. Estavam exaustos, mas aos poucos começaram a falar sem entraves alguns. As palavras voltaram desprendidas. Escorregavam. Deixaram de estar nervosos e o dia acabou com um banho quentinho.

Sem comentários: