terça-feira, 11 de novembro de 2008
São Martinho
Sofia estava a chegar aos 35 e sentia-se como sempre lhe disseram que era suposto sentir-se aos 30. A parte de se achar menos incomodada com o estar sozinha a comer castanhas e beber jeropiga em noite de São Martinho era agradável. Ligou-se à net, partilhou o magusto online com o Pedro e bebeu mais do que ele. Como se provou. Contou-lhe pelo gtalk que tinha pena que ele se tivesse virado para a Olga naquela altura. Ela já tinha comprado roupa interior nova. Daquela vez optou pelas bolinhas. Milhares de bolinhas, pintinhas. Atirou-lhe que ele tinha sido burro. Mudando de tom, o Pedro não gostou nada de ouvir aquilo e, entre castanhas, foi contando que a Olga não foi nada de especial, que ele estava numa fase de não querer nada de especial, que ela se sentou ao colo dele e que ele se sentiu quentinho. Do alto dos seus 3o anos, Sofia disse-lhe: "Aconteceu, não aconteceu? Isso é que interessa. É a vida". "Não", corrigiu ele, "é a vidinha". Sofia desligou o gmail triste. De repente, ficou cansada. Pedro ficou online a escrever-lhe para o mail. Entre outras coisas, disse-lhe que o que eles tinham lhe parecia não se encaixar nem na amizade nem no amor. Talvez não haja o nome certo, concluiu. Depois de 2500 caracteres, terminou: "Por isso, não podemos namorar, nem ser amigos".
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